EPISÓDIO 45 (FINAL) – ENTERREM MEU CORAÇÃO NA
PEDREIRA DA TOEI
- É muito louco – Sniper disse. Seus olhos eram
duros, de quem tinha lutado contra a tristeza e perdido – Estamos preparados
para morrer lutando desde o começo. Mas nunca estamos preparados para ver um
amigo morrer.
- Não era para ter sido assim – Chaos estava
bastante ressentido ainda – Eu vim aqui sabendo que podia precisar me
sacrificar, até imaginei isso. E aí alguém se sacrifica por mim... Estou
entristecido, e com o orgulho ferido. Eu me tornei um peso. Alguém morreu por
minha culpa – Chaos deu um soco no chão.
- E o que você pretende fazer agora?
- Eu preciso dar valor ao sacrifício do Charles, e
viver da melhor forma possível. Vou acertas contas com o Kabuto. Vou me tornar
mais forte. Mais e mais forte, até chegar ao ponto de jamais permitir que algo
assim aconteça de novo. É o mínimo que posso fazer.
- Mas antes... temos que dar ao Charles... o enterro
merecido, não temos? – Jardel disse.
- Aquela porra de livro sobre o qual ele estava
falando – Clayton secava os olhos com as costas das mãos – Será que é uma
indireta? Talvez ele quisesse dizer que há algum lugar onde ele quisesse ser
enterrado.
- Tá, mas onde? – Mateus Paiva perguntou.
Não houve resposta. Bruce, Sava-kun e Eternal ainda
tinham na cabeça as últimas frases do amigo.
Cadê elas? Pelo
que temos lutado nos últimos anos? De que adiantou? Elas vieram para o Brasil?
Vão vir um dia? Estão se graduando uma a uma? Cadê elas, Sniper? De que
adiantou toda a nossa luta? Estamos aqui, no Japão. Não há desculpas, desta vez
não estamos a um oceano de distância! Cadê elas? Lutamos e sangramos por elas!
Cadê elas?
De repente, tudo ficou escuro.
***
Eles estavam na pedreira da Toei. Todos eles,
incluindo o cadáver de Charles. Tudo indicava que aquilo respondia à pergunta
de antes.
Para aqueles um pouco mais antigos, a sensação era
indescritível. Muitos tinham passado alguns anos de suas infâncias vibrando com
seus heróis favoritos enfrentando variadas formas de mal naquele lugar. Viram o
Jiban morrer, viram Kamen Rider Black travar a batalha final contra Nobuhiko, e
Jaspion derrotar a bruxa Kilza ali.
Para os mais novos, havia o respeito, a consciência
de que aquele local era mítico e tinha importância que ia além da passagem do
tempo. Até porque, muita coisa legal recente tinha sido filmada por lá.
Para os fãs das Kamen Rider GIRLS, havia a emoção de
saber que a capa do álbum Exploded tinha sido fotografada por lá. Havia um
vídeo mostrando detalhes, e estar onde elas já estiveram um dia era algo
inimaginável, a honra suprema.
Por todos esses motivos, estar ali era realmente
mágico. Levando-se em conta a distância e o custo para ir do Brasil ao Japão,
simplesmente conseguir estar ali já era épico. Algo a se comemorar,
principalmente ao lado dos amigos.
Mas Charles não estava lá.
Era ali que teriam que enterrá-lo? Hibohibo-sama
apareceria para dizer alguma coisa? Havia ainda alguma esperança de tudo aquilo
ter um final feliz?
- Talvez, a toda a magia que existe neste lugar faça
o Charles reviver – Petherson disse.
Como por milagre, ou não, o Charles que antes estava
deitado morto, apareceu de pé diante de todos eles.
- Charles, você ressuscitou? – quase todos gritaram
ao mesmo tempo.
- Não – ele sorriu – Vim dar meu último adeus a cada
um de vocês!
***
- Todo esse
tempo perto de vocês, tanto no facebook quanto pessoalmente, foi muito
especial. Muito obrigado a cada um de vocês.
- Pera aí, Charlie, talvez a Hibohibo-sama possa te
ressuscitar – Eternal disse, e sua voz tinha tom de desespero – Talvez a gente
mesmo possa fazer isso. Com todo o poder que a gente adquiriu, é impossível que
não possamos pelo menos tentar.
- Chegou a hora de eu seguir meu próprio caminho.
Começar uma outra jornada. Mas a de vocês vai continuar neste mundo mesmo.
- Então, nós nunca mais iremos te ver, Charlie? –
Sava-kun perguntou.
- Nunca mais
é muito tempo. A existência é uma coisa muito louca, em que os mundos e as
vidas se cruzam. Nossa jornada em busca do clímax acabou, outras jornadas
começarão. Em outra delas, com certeza, vamos nos encontrar de novo. Não aqui.
Talvez não tão cedo. Mas um dia, meus amigos, com certeza nos reencontraremos.
Os corações congelaram. Cada um começou a se lembrar
das melhores recordações que tiveram com ele. De como o conheceram, de como se
tornaram amigos dele.
Como esquecer algumas frases memoráveis dele?
Dinheiro na mão,
calcinha no chão.
Trocadilho de
merda KITAAAAAAAAAAA!
Ok, cara, já
teve seus cinco minutos de fama. Agora volte para sua Poke-bola.
Kaaaaaaaaaooooooooooooooooriiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
Como esquecer dos vídeos malucos do Delírios de um Fanboy?
Como esquecer dos trocadilhos terrivelmente infames,
da zueira, da criatividade? Como esquecer que tudo seria melhor se tivesse sido
escrito por ele?
- Charles, não diga essas coisas! – Natan disse –
Você é meu amiguinho! Meu amigão!
O guerreiro morto só sorria.
- Haverá um dia, que todos nós nos reencontraremos.
Um dia em que estaremos todos juntos. As Kamen Rider GIRLS também estarão lá.
Os sonhos se realizarão. Todos eles. E só haverá felicidade.
- Charles... – Bruce tentou interromper.
- Mas até que esse dia chegue.... Vocês precisam
lutar. Vocês devem ser fortes. Precisam acreditar em si mesmos, nunca desistir,
superar todas as dores. Eu sei que não será fácil. Para mim também não será.
- Não é justo... – Chaos deixou escapar.
- A Hibohibo-sama disse que, se vocês quiserem, ela
pode apagar das mentes de vocês todas as lembranças de vocês. Será como se eu
nunca tivesse existido. Vocês não sofrerão pela minha ausência. O que acham?
Houve um silêncio triste.
- Não! – Bruce disse – As lembranças são as coisas
mais preciosas que temos. Não vamos abrir mão disso.
Houve mais silêncio. O único som era o das lágrimas
caindo.
- Eu preciso ir.
Enquanto os Hibo Riders gritavam de desespero e
diziam Não repetidas vezes, longe
dali as Kamen Rider GIRLS, cada uma em sua casa, sentiam um estranho mal-estar.
Uma tristeza súbita. Algo que não sabiam explicar, mas que lhes deixava muito
chateadas. Uma sensação de saudades por um motivo que não entendiam.
- Muito obrigado por tudo, amigos! Jamais vou
esquecer de vocês! Jamais!
- Charles, não!
- O dia do reencontro chegará! Tenham certeza disso!
Enquanto isso, sejam fortes. Sejam fortes, assim como eu tentarei ser.
- Chaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaarleeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeessssss!
- Adeus... meus amigos!
***
Aquela pedreira já tinha sido palco de muitos
eventos. Muitos acontecimentos, batalhas. Vidas protegidas, mortes de vilões.
Confrontos que decidiram destinos. Aquele era um palco de heroísmo e emoções.
Lá, incontáveis histórias foram contadas. E lá, mais
uma história se encerrava. Uma história que ensinava a dolorosa lição de que
nem tudo termina da forma como se gostaria.
Mas se o fim não é aquele que você deseja, basta
seguir lutando. Basta não permitir que aquele seja o fim. Porque as coisas não
terminam quando acabam, mas sim quando PERMITIMOS que elas acabem.
Os Hibo Riders saíram de lá com os rostos banhados
em lágrimas. Cada um tinha suas crenças, mas ninguém foi capaz de duvidar que
haveria um reencontro.
Um dia.
Um portal se abriu. Era o último auxílio de
Hibohibo-sama. Um caminho que levaria cada um da pedreira até sua respectiva
casa. Tinham reencontrado o clímax e protegido o mundo. Salvaram sua própria
deusa. Mereciam aquilo.
Os últimos passos, ainda na pedreira, foram de
tristeza indizível. Era impossível seguir em frente sem olhar para trás.
Lágrimas ficaram pelo caminho, e o corpo de Charles desapareceu.
Aquele era o último adeus do zueiro que todos
amavam.
***
Naquele momento, bem longe dali, sem entender por
que, a cantora conhecida como Kaori Nagura começava a chorar de tristeza.
FIM